terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A conquista de si mesmo

Publico agora um texto do filósofo alemão Frederico Nietzsche. Para princípio desta apresentação, esclareço: não sou nietzschiano! Mas já o fui. Hoje, julgo a filosofia desse excêntrico alemão praticamente desimportante a mim; no entanto, há marcas indeléveis que sobrevivem-nos mesmo após muitas metamorfoses. Sim, os meus princípios atuais são contraditórios à filosofia de Nietzsche e a negam; porém, não vejo que ela seja de todo o mal. Nietzsche nos convida como ninguém a sair do estágio do convencionalismo e começarmos a filosofar. Para mim, talvez tenha sido o impulso que me retirou da inércia e me fez tornar autônomo, o que é fundamental para que se possa sentir livre. Acho sua leitura imprescindível para que se conheça a profundidade da vida e o valor que ela tem. O texto que segue, extraído do primeiro capítulo de Schopenhauer Educador, é um exemplo disso.



Frederico Nietzsche, do livro Schopenhauer Educador:

"Se ocorrer que um grande pensador menospreze os homens, é sua preguiça que despreza, é ela que os faz se assemelharem a objetos fabricados em série, indiferentes, indignos de ser instruídos ou incluídos na convivência. O homem que recusa fazer parte da massa nada mais tem a fazer que renunciar à sua indulgência para consigo mesmo; que obedeça à sua consciência que lhe grita: "Sê tu mesmo! Tudo o que fazes, tudo o que pensas, tudo o que ambicionas agora, tudo isso não é tu." [...] E sem essa emancipação, como a vida pode parecer desoladora e absurda! Não existe no mundo criatura mais estúpida e mais repugnante que o homem que se furta a seu próprio gênio e que espia à direita e à esquerda, atrás e por todos os lados. Não podemos sequer culpá-lo, pois não passa de epiderme sem cerne, tecido pintado, desfiado e inflado pelo vento, fantasma colorido que não consegue despertar medo e muito menos compaixão. [...] E além do mais, é realmente necessário que tudo dê testemunho do que somos, nossas amizades como nossos ódios, nosso olhar como nosso aperto de mão, nossa memória e nossos esquecimentos, nossos livros e os rabiscos que nossa caneta traça? Aqui está, porém, como se deve instaurar o interrogatório essencial entre todos. Que a jovem alma considere sua vida interior e se pergunte: "O que realmente amaste até agora, para que te sentiste atraída, por que te sentiste dominada e cumulada a um tempo? Repassa diante de teus olhos a série inteira desses objetos de veneração e talvez, por sua natureza e sucessão, vão te revelar uma lei, a lei fundamental de teu verdadeiro eu. [...] Teus verdadeiros educadores, aqueles que vão te formar, vão te revelar aquilo que realmente é o sentido original e a substância fundamental de teu ser, aquilo que resiste a toda educação como a toda formação e, em todo caso, uma realidade dificilmente acessível, um feixe amarrado e rígido; teus educadores nada podem fazer por ti, a não ser tornar-se teus libertadores. E esse é o segredo de toda formação; ela não consiste em nos dar membros artificiais, narizes de cera, olhos com antolhos; muito pelo contrário, se ela pudesse nos dar semelhantes presentes, não passaria de um simulacro de educação; mas ela é libertação, extirpação das ervas daninhas, dos escombros [...]."

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