Segue abaixo mais um texto do francês Léon Denis, uma apresentação dos celtas como um povo historicamente associado ao espiritualismo e à liberdade. No final, o autor compara os modos de pensar francês e alemão, fazendo apologia do primeiro. O fragmento foi extraído do livro O Grande Enigma e vem precedido de trechos do verbete da wikipedia para "Celtas".

Celtas (wikipedia):
Celtas é a designação dada a um conjunto de povos, organizados em múltiplas tribos, pertencentes à família linguística indo-europeia que se espalhou pela maior parte do oeste da Europa a partir do segundo milénio a.C.. A primeira referência literária aos celtas (Κελτοί) foi feita pelo historiador grego Hecateu de Mileto no século VI a.C..
Boa parte da população da Europa ocidental pertencia às etnias celtas até a eventual conquista daqueles territórios pelo Império Romano; organizavam-se em tribos, que ocupavam o território desde a península Ibérica até a Anatólia. A maioria dos povos celtas foi conquistada, e mais tarde integrada, pelos Romanos, embora o modo de vida celta tenha, sob muitas formas e com muitas alterações resultantes da aculturação devida aos invasores e à posterior cristianização, sobrevivido em grande parte do território por eles ocupado.
Existiam diversos grupos celtas compostos de várias tribos, entre eles os bretões, os gauleses, os escotos, os eburões, os batavos, os belgas, os gálatas, os trinovantes e os caledônios. Muitos destes grupos deram origem ao nome das províncias romanas na Europa, as quais que mais tarde batizaram alguns dos estados-nações medievais e modernos da Europa.
Os celtas são considerados os introdutores da metalurgia do ferro na Europa, dando origem naquele continente à Idade do Ferro (culturas de Hallstatt e La Tène), bem como das calças na indumentária masculina (embora essas sejam provavelmente originárias das estepes asiáticas).
Do ponto de vista da independência política, grupos celtas perpetuaram-se até pelo menos o século XVII na Irlanda, país onde por seu isolamento, melhor se preservaram as tradições de origem celta.[1] Outras regiões europeias que também se identificam com a cultura celta são o País de Gales, uma entidade sub-nacional do Reino Unido, a Cornualha (Reino Unido), a Gália (França, e norte da Itália), o norte de Portugal e a Galiza (Espanha). Nestas regiões os traços linguísticos celtas sobrevivem nos topônimos, nalgumas formas linguísticas, no folclore e nas tradições.
A influência cultural celta, que jamais desapareceu, tem mesmo experimentado um ciclo de expansão em sua antiga zona de influência, com o aparecimento de música de inspiração celta e no reviver de muitos usos e costumes conhecidas hoje como Celtismo.
A unidade básica de sua organização social era o clã, composto por famílias aparentadas que partilhavam um núcleo de terras agrícolas, mas que mantinham a posse individual do gado que apascentavam.
Organização social: com base em estudos efectuados na Irlanda, determinou-se que a sua organização política era dividida em três classes: o rei e os nobres, os homens livres e os servos, artesãos, refugiados e escravos. Este último grupo não possuía direitos políticos. A esta estrutura secular, agregavam-se os sacerdotes (druidas), bardos e ovados, todos com grande influência sobre a sociedade.
Léon Denis, do livro O Grande Enigma:
"O espírito céltico é ávido de claridade e de espaço, apaixonado da liberdade; possui intuição profunda das coisas da alma que reclamam revelação direta, comunhão pessoal com a Natureza visível e invisível. Eis por que ele estará sempre em oposição à Igreja Romana, desconfiada dessa Natureza e cuja doutrina é toda cheia de compressão e de autoridade. Os druidas e os bardos lhe foram rebeldes. Apesar das conquistas romanas e das invasões bárbaras que facilitaram a expansão do Cristianismo, a alma céltica, por uma espécie de instinto, sempre se sentiu herdeira de uma fé mais larga e mais livre que a de Roma.Inutilmente os monges procurarão impor-lhe a idéia de ascetismos e de renúncia, a submissão a dogmas rígidos, a uma concepção lúgubre da morte e do Além; o espírito céltico, em sua sede ardente de saber, de viver e de agir, escapará a esse círculo estreito.
A idéia fundamental do druidismo é a evolução, a idéia do progresso e do desenvolvimento na liberdade. Essa idéia é tomada, até certa medida, à Natureza e completada pela Revelação.Com efeito, a impressão geral que ressalta do espetáculo do mundo é um sentimento de harmonia, uma noção de encadeamento, uma idéia de fim e de lei, isto é, relações eternas dos seres e das coisas. A concepção evolutiva emana do estudo dessas leis. Há uma direção, uma finalidade na evolução, e esse rumo traz o conjunto das vidas, por gradações insensíveis e seculares, para um estado sempre melhor.
O Cristianismo, ou antes, o Catolicismo afastou essa idéia, mas a Ciência nos torna a levar para ela. Primeiramente, esta espiritualiza a matéria, reduzindo-a a centros de força e nos mostra o sistema nervoso, complicando-se cada vez mais na escala dos seres, para chegar ao homem. As espécies bravias tendem a desaparecer diante da superioridade do homem. Com o desenvolvimento do cérebro, o pensamento triunfa. A consciência executa sua ascensão paralela. Há aproximação entre as leis morais e as certezas físicas e biológicas. A ordem que se manifesta nos dois domínios chega a conclusões análogas. A Natureza é plástica, móvel quanto elas, e sofre a influência do Espírito Divino.
Sendo essa evolução a lei central do Universo, o principal papel da ordem social é facilitá-la a todos os seus componentes. A vida é, pois, boa, útil e fecunda. Diante das perspectivas infinitas que ela nos abre, todos os sentimentos deprimentes, pessimismo, dúvida, tristeza, desespero, desaparecem para dar lugar às inspirações imortais, à esperança imperecível.
É esse gênio de nossa raça, sobrenadando a onda das invasões, sobrevivendo a todas as vicissitudes da História, reaparecendo sobre vinte formas diversas, depois de períodos de eclipse e de silêncio, que explica a grande missão e a irradiação da França na obra da civilização. Mais que qualquer outra raça, os celtas, cujas origens se perdem no longínquo vertiginoso dos tempos, se aproximam, pelo instinto hereditário, do mundo das causas e das fontes da vida. Tanto na Ciência quanto na Filosofia, eles conseguiram muitas vezes aplicar o pensamento desnorteado ao sentimento da Natureza e de suas leis reveladoras, a uma concepção mais clara dos princípios eternos. Se o entusiasmo e a lei célticos pudessem extinguir-se, haveria menos luz e alegria no mundo, menos transportes apaixonados para a Verdade e o Bem. Desde mais de um século, o materialismo alemão entenebreceu o pensamento, paralisou seu surto; podemos verificar por toda parte, em torno de nós, os resultados funestos de sua influência. Mas, eis que o gênio céltico reaparece sob a forma do espiritualismo moderno, para esclarecer de novo a Alma humana em sua ascensão; ele oferece, a todos aqueles cujos lábios estão dessecados pelo áspero vento da vida, a taça de esperança e de imortalidade."
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