A seguir, uma análise da revolução francesa pela ótica patriota de um francês contemporâneo, o filósofo Léon Denis(1846-1927).
Do livro O Progresso, de Léon Denis:
"E eis que o pensamento renascente descobre um recurso para se expandir no mundo, um instrumento admirável. Um homem funde caracteres de metal que se agrupam e formam palavras: é a imprensa.
Graças a ela, o livro, tão raro, tão custoso quando era só um manuscrito copiado a pena, o livro e, mais tarde, o jornal vão penetrar até nas mais humildes residências, iniciando o camponês e o operário na vida intelectual; arrancando, um a um, de suas almas os instintos grosseiros que a servidão engendra, preparando-os para a liberdade.
Desde então, o pensamento toma seu impulso e avança com passo rápido.
A Arte resplandece; a Ciência sonda os céus profundos e revela a suprema harmonia dos mundos.
A Filosofia cuida dos maiores problemas, a História se esclarece. A Igreja e os tronos ficam abalados, as velhas crenças e as superstições batem em retirada; a razão e a consciência se expandem e esse imenso trabalho de elaboração, que dura três séculos, chega enfim à formidável explosão moral que denominamos Revolução de 89, explosão esta que, abalando a velha sociedade autoritária e feudal, fez nascer na face do mundo a moderna civilização, apoiada em bases inabaláveis: o direito e a liberdade.
A Revolução é para nosso país, para nossa raça, o que é, para cada um de nós, a hora de sua maioridade.
É a sociedade humana tomando posse do governo de si mesma, substituindo o reino da justiça ao do favor, a lei ao bel-prazer, a liberdade à escravidão.
Na ordem política e social, o passado, para dirigir os homens, invoca uma vontade superior, uma vontade exterior à consciência.
É nas crenças obscuras, nas revelações sobrenaturais, é muitas vezes na forma brutal que as instituições da Idade Média encontram as fontes da autoridade.
A Revolução põe as bases da nova ordem social sobre leis imutáveis da natureza e sobre os eternos ensinamentos da razão. Nada de milagres, nem revelações. É na consciência humana que se encontram os princípios que darão autoridade para todos, quando forem proclamados pela vontade nacional e convertidos em leis pelos eleitos do povo.
Eis o direito moderno e não apenas o dos franceses, porém o de todos os homens, direitos que, acompanhados dos deveres correspondentes, ficarão inscritos um dia em cada povo no alto de sua Constituição.
Os constituintes de 1789 não falaram somente para a França, mas para o mundo inteiro. É a grandeza e a glória imortal da Revolução Francesa, por ter inaugurado esses princípios de igualdade, solidariedade e fraternidade em torno dos quais as nações se unirão um dia como membros de uma única família, da grande família universal.
Senhores, nessa rápida exposição da marcha do progresso através dos tempos, eu paro na Revolução.
Com efeito, a Revolução é o abismo que se coloca entre duas épocas: uma marcando a infância da humanidade e a outra sua idade adulta. Antes da Revolução, o mundo olha para trás e acredita na queda, na decadência, pondo toda sua confiança nas lendas religiosas.
A partir de 1789, o mundo olha o futuro, o homem só conta com sua própria iniciativa, seu trabalho, seu gênio, para criar esse futuro que será tanto maior quanto maiores forem os esforços para prepará-lo. A Revolução, é preciso dizê-lo, se fez no meio de uma geração que não tinha maturidade.
A ignorância, a luta de interesses egoístas impediram o desenvolvimento durante oitenta anos. Hoje, amadurecida pelas provas, nossa geração religa a cadeia interrompida do progresso.
Pacífica, porém resolutamente, ela retoma a obra de nossos antepassados para continuá-la em todas as suas conseqüências lógicas, para realizar a emancipação intelectual e moral do gênero humano."
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