terça-feira, 5 de outubro de 2010

Abaixo a democracia!

Eu, que sou iluminista, escrevi um texto para atacar a democracia. Veja.



– Generais, retomai os vossos postos. Sois novamente requisitados pela nação!

Muito se discute durante o processo eleitoral sobre a validade deste para a construção da democracia brasileira. Pode parecer óbvio: não há democracia sem participação popular, e a melhor forma de se interrogar a opinião pública é oferecendo ao povo a possibilidade do voto. Não tão óbvio, no entanto, é supor que – como foi demonstrado – o povo queira para si mesmo maus governantes. Deve haver nisso uma falha processual que merece ser investigada. É irracional pensar que alguém possa desejar o mal para si mesmo. Se assim procede, só se pode crer que esteja sendo enganado.
O atual sistema político brasileiro, de fato, não passa disso: de uma enganação. É, sem dúvida, um erro gravíssimo adotar a democracia numa sociedade de analfabetos. Além do mais, é contra a natureza do processo dialético. Portanto, a democracia deve ser suprimida. Toda democracia bem sucedida surge com base numa revolta popular. Como exemplo maior, tem-se a Revolução Francesa. E ela só pode mesmo dar certo surgindo desse movimento coletivo do povo, sendo resultado de sua insatisfação com relação a uma forma de governo. Somente assim o povo prova ser suficientemente consciente para abolir uma forma de governo repressora e capaz de participar de uma democracia.
Não é possível pretender construir uma ordem justa de relações sociais sem que se tenha um povo socialmente conscientizado. A Europa passou por séculos de um absolutismo obscuro. Só com o Iluminismo e com as filosofias sociais modernas é que se foi resolver o problema do governo que vinha desde o fim do Feudalismo e da instauração do Mercantilismo – e hoje os Estados da Europa vivem o que se poder chamar de a mais perfeita harmonia social. Já o Brasil crê ter conseguido construir uma democracia após apenas duas décadas de ditadura militar. O povo brasileiro é ainda alienado, desprovido de luz. O atual sistema político dá aparência de normalidade à corrupção: pensa-se estar numa democracia enquanto se elege corruptos. O povo brasileiro não vai esclarecer-se politicamente enquanto não deixarmos de viver a falsa democracia. É só mesmo nas trevas mais terríveis que a luz pode ser encontrada. A democracia é a antítese da repressão. Por isso, é preciso uma nova repressão, para acordar o povo brasileiro da acomodação hipócrita em que ele se encontra. Uma verdadeira democracia surge como conseqüência e resultado dum duradouro período de absolutismo. Corremos atrás de uma solução para o nosso quadro atual, no entanto, encontramo-nos necessitados antes de um problema que de uma solução. Só quando se tem um problema é que se o pode solucionar. Tal é a dialética.
Não vivemos mais a época de cantar os heróis da ditadura: Chico Buarque, Caetano Veloso, etc. O nosso hino deve enaltecer, pelo menos por agora, o que nos repugna. Aquele que cantou “é proibido proibir” deve ser novamente exilado. O caos que vivemos é também resultado do excesso de liberdade. Se desejamos a democracia, devemos adorar, por um novo período de tempo, os ditadores.

5 comentários:

  1. Fala Vítor! Cara, dê uma olhada nesse artigo aí:

    http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1666-485X2009000100001&lang=pt

    O link é grande e o texto é espanhol, mas tranquilo pra ler. Fala sobre dois filósofos fodas e descem a lenha na "razão".

    Abraço!

    ResponderEliminar
  2. Olá Vítor, o que pensa sobre a inserção da questão religiosa no debate eleitoral? Seria interessante discutir, não acha?

    Abraços,

    ResponderEliminar
  3. Sim... Acho importante.
    Nas últimas eleições eu não me recordo de ter visto os candidatos discutirem sobre a questão religiosa.
    Agora, no entanto, a primeira coisa que se reconhece, ao meu ver, é que, se a religião volta a ser um tema discutido durante a disputa presidencial e passa a influenciar diretamente no resultado das eleições - há quem diga que Dilma só não venceu no primeiro turno por causa da propaganda católica e protestante anti-petista -, então ela, a religião, ainda é considerada de alguma importância pela população brasileira, ao ponto de se preferir um candidato a outro pelo fato deste se demonstrar mais cristão que aquele. Isso significa que, para muitos eleitores, a religião de um candidato, ou a inexistência dela, é mais importante que as propostas desse candidato e as transformações sociais e econômicas que ele pode realizar para o país caso seja eleito.
    O que vejo num prmeiro momento é isso, mas creio que outras análises também podem ser feitas.
    O que você pensa?

    ResponderEliminar
  4. O tópico "religião" é evidentemente desviado pelos políticos (no Brasil) a não ser quando explicitado, caso do momento. Penso que a inserção da religião "faz parte" do funcionamento da democracia, mas me incomoda que esse assunto domine as discussões e esqueça os demais temas. O Brasil é um país religioso, mas há de se considerar que, de acordo com nossa Constituição, somos um país laico.

    Enfim, essa balbúrdia revela o quão despreparados nós, sociedade, e eles, políticos, estamos em face da política, que ao invés de nos aproximar, distancia-nos e nos fragiliza.

    ResponderEliminar
  5. Para mim, escolher um candidato só porque ele professa esta ou aquela religião é o mesmo que escolhê-lo apenas porque ele torce para este ou aquele time de futebol. Política e religião já são duas coisas distintas há bastante tempo. É uma pena que não saibamos compreender isso.

    ResponderEliminar